Poluição no Tejo: uma irresponsabilidade que tem rosto



O problema ambiental que se abate sobre o rio Tejo não é, como todos sabem, de agora.

Há pelo menos dois anos que a emergência da sua resolução está à vista de todos, sobretudo do ministério do Ambiente.

Na semana passada, o desastre, visível aos olhos de todos nós, emergiu à tona das águas do rio que nos pertence. Um manto «dantesco» de espuma no açude insuflável de Abrantes feria-me o olhar e também a alma.

Colocando de lado a parte emocional que me atinge, é inqualificável a irresponsabilidade do Estado português pela inacção que persiste em se manter.

As denúncias de descargas poluentes no rio, os problemas das alterações climáticas associados a falta de estratégias globais sustentáveis para o Tejo, têm levado a crimes constantes ante um dos nossos maiores recursos nacionais.

Sem saída, o ministro do Ambiente apressou-se a vir a Abrantes falar sobre o problema, justificando-o com causas que não me pareceram, de todo, as mais factuais. Uma palavra de dureza para as empresas que a montante de Abrantes poluem o rio há anos, nada. Zero.

Entretanto, conhecem-se mais inquéritos abertos pela Procuradoria Geral da República às empresas que em Vila Velha de Ródão têm ajudado, terrivelmente, a agudizar o problema.

É triste, lamentável e criminoso a ausência de uma ação definitiva das instituições portuguesas, que têm competência na matéria. Nos últimos dois anos por onde andou a Agência Portuguesa do Ambiente? Por onde andaram o ministro de Ambiente e o secretário de Estado do Ambiente? Onde estão os agentes públicos, garantes da legalidade, e da sobrevivência do país nas suas áreas tutelares?

Os alertas foram mais do que muitos. Os movimentos ecológicos e cidadãos têm sido os únicos a gritar bem alto que o Tejo está a morrer.

Não morre só o seu habitat, morrem também as gentes que ao longo do seu leito habitam, morrem as oportunidades económicas e turísticas que o rio sempre proporcionou. Morre um país interior que depende dos recursos endógenos para se tornar menos pobre.

Todos nós, sem exceção, somos culpados. Não temos sabido defender, com unhas e dentes, o que pertence à Humanidade.

O Estado português e os seus representantes são a cara desta irresponsabilidade. E enquanto não se avançar com uma estratégia musculada e transversal aos problemas ambientais do rio Tejo, continuaremos a matá-lo. E a morte, lenta e dolorosa, sabemos bem, irá conduzir-nos a todos a um precipício sem regresso.

Que as comunidades ribeirinhas do Tejo tenham a coragem suficiente para assistir a um homicídio confesso.

Eu, que nasci e cresci nas margens dele, há muito que perdi a esperança.

*Crónica de 29 de janeiro de 2018, na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR

Comentários

Mensagens populares