Portugal: um país retido por questiúnculas




É cada vez mais sufocante a dimensão que ganham os acontecimentos neste país. Sobretudo empurrados pela ira das redes sociais que precipitam, muitas vezes, o exagero de algumas realidades.



Podia falar da Web Summit, a cimeira tecnológica que se realizou em Lisboa na semana passada. Podia falar da insegurança que lavra à noite nas discotecas da capital. Podia até falar dos ataques sistemáticos que os polícias portugueses são alvo diariamente. Podia. Mas sobre isto tudo já os nossos meios de comunicação social secaram até à última gota.



Apetece-me antes falar de algo bem mais grave que entretanto o país assistiu, mas que, pelos vistos não merece a mesma atenção nem das redes sociais nem dos jornalistas.



Falo do surto de legionella no hospital São Francisco Xavier, em Lisboa.



Tenho pelo atual ministro da Saúde alguma consideração. Adalberto Campos Fernandes tem estado à altura da difícil tarefa que é gerir e liderar o ministério da Saúde.



Porém, na última semana meteu os pés pelas mãos e não soube lidar, de todo, com o problema.



É lamentável que se interrompam velórios de vítimas para recolher corpos para autópsia. Autoridades, de saúde e judiciais, falharam em toda a linha. Não estamos a falar de um erro processual, burocrático ou administrativo. 

Estamos a falar de um erro que agudiza ainda mais o sofrimento das pessoas. E isto é imperdoável. Tal como imperdoável foi a reação do ministro que simplesmente lamentou o "incómodo e perturbação" causado às famílias das vítimas.



O que o Governo não responde, enquanto representante do Estado português, é o que falhou no São Francisco Xavier? Por que razão depois do que aconteceu em Vila Franca de Xira, em 2014, isto voltou a acontecer?



E se sabemos todos que, desde 2013, não há auditorias obrigatórias à qualidade do ar interior em edifícios e os meios de fiscalização tutelares são parcos.



Os avisos foram todos dados há 3 anos com o caso de Vila Franca de Xira. De lá para cá não aprendemos nada. Continuamos a agir como se nada tivesse acontecido.



Portugal é isto: quando acontecem as tragédias há anúncios ocos em que apenas se fazem discursos do ponto de vista punitivo. Nunca se age, nunca se atua, efetivamente, do ponto de vista preventivo e a montante do problema.



O Estado esse, seja nos incêndios, seja na legionella, seja na insegurança, nunca tem culpas, a culpa é sempre do destino.



É por tudo isto que este país é visto, à luz de tantos outros, mais desenvolvidos, como um país atrasado. E somos mesmo, fruto, em muitas coisas, da incompetência de quem nos governa.

*Crónica de 13 de novembro, na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR.

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