A nova Era tem um nome. Terrorismo de massas.
É inevitável não falar esta semana do ataque bárbaro
que teve lugar na noite de sexta-feira 13 em Paris. O horror e a revolta são, obviamente, sentimentos
comuns a todo e qualquer ser humano. Sobre isso não irei falar, até porque é
uma sensação e emoção que nos une a todos. Contudo, quero falar da natureza de um ataque que é,
ao mesmo tempo, uma ameaça a todos nós, em qualquer lugar, cidade
ou circunstância. No Ocidente, onde a ameaça terrorista é cada vez mais
um lugar-comum, há uma mudança em curso, cada vez mais iminente. O ato fanático
da passada sexta-feira pode agora acontecer num ápice. Ações concertadas, ainda que com características
artesanais, podem ser uma realidade fácil. Ao todo, na capital francesa, foram
várias as zonas atacadas praticamente em simultâneo e da mesma forma. O autoproclamado Estado islâmico, onde a religião é
usada em nome de objetivos tenebrosos existe, e ao contrário do que os líderes
mundiais pensavam, está aí, vivo e mais ativo do que nunca. Não há segurança possível contra atos desta espécie,
suportados apenas numa arma automática, capaz de dizimar dezenas de vidas e
chocar o mundo assim de forma tão fácil. Este é um terrorismo mais duro, aquilo a que chamamos
terrorismo de cidadão e de massas e que pensávamos estar bem enterrado. Se
tínhamos dúvidas disso, com os ataques que têm ocorrido nos últimos dois anos,
temos agora a prova de que estávamos redondamente enganados. Obviamente que falar de Estado Islâmico e terrorismo
pressupõe falar da Síria e do problema dos refugiados, mas também da Arábia
Saudita, do Iraque e da Turquia, apenas para dar os exemplos mais
problemáticos, na chamada origem do problema. Contudo, confundir a questão dos migrantes que têm
chegado em massa à Europa com fundamentalismos e terrorismo é tristemente errado.
É colocar o problema na árvore e não apenas no ramo podre. Falamos de um terrorismo de inspiração religiosa que
de religião nada tem e que ataca sociedades e não regimes, Estados ou partidos. É certo que muitos se infiltram nas massas e é este o
ponto sobre o qual a Europa e os seus líderes nunca se debruçaram. É preciso
atacar o coração do tal Estado islâmico. Militarmente? Se for preciso. Célula a
célula? Sem a menor das dúvidas. E essencialmente no seio dos países
financiadores destes loucos terroristas que crescem de dia para dia sem que o
mundo, leia-se EUA, Rússia e Europa, façam o que quer que seja. Enquanto estes três blocos não se entenderem quanto ao
problema sírio e ao Médio Oriente, continuará a haver banhos de sangue no
Ocidente, como aquele que vitimou na sexta-feira mais de uma centena de civis
em Paris. Até lá o ódio terrorista não cessará. E todos nós, sem
exceção, estaremos à mercê dos seus infames desejos.
*Crónica de 16 de novembro na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR.
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