Com amor, dedicado a Pedro (Passos Coelho).


Hoje quero falar, nesta crónica, de uma questão meramente social. Digo logo ao que venho porque deixarei de fora todos os índices económicos e financeiros. Em primeiro lugar, porque vou falar de pessoas. E em segundo porque o assunto diz respeito a todos nós, directa ou indirectamente. Portugal voltou aos níveis de pobreza e exclusão social de há dez anos. O país tem hoje dois milhões de pessoas com o triste estatuto de pobre, sendo que um em cada cinco portugueses é pobre. Os dados foram divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) e percorrem os anos de 2013 e 2014. Uma das grandes desigualdades revela-se ao nível da distribuição de rendimentos. Este é um cenário dramático. Parece não o ser para o primeiro-ministro, que diz que estamos melhores que há três anos. Resta-me dizer que certamente, a privação e as dificuldades, não lhe bateram à porta. Sim, há dois milhões de pessoas que vivem mal, passam dificuldades e até fome. Para um país que se diz, em tantas situações, do século XXI, que fala em tecnologia como quem fala em riqueza, a verdade é que estes são números dramáticos e que deviam, há muito, ter feito soar as campainhas dos responsáveis máximos deste País. Falo da classe política vigente. Dos homens e mulheres, que além de governantes, são pais, irmãos, tios, primos, e sei lá mais o quê. E ao contrário do que diz Pedro Passos Coelho, estes dados não são meramente «ecos daquilo que passamos», continuam a ser a realidade de famílias inteiras, de crianças e velhos, que, por este Pais fora, sofrem com a pobreza que lhes bateu à porta. E se olharmos igualmente para as pensões de reforma e sobrevivência, que têm sido reduzidas de ano para ano, percebemos porque aumentou o risco de pobreza. Dizem que cheira a mudança na Europa, depois das eleições gregas de há uma semana. Não sei se cheira, e muito menos acredito que haja. O que continuamos a ver é uma Europa a mais de 20 velocidades, com aumento de diferenças ao nível social, e os países do sul, se pensam ter uma vida fácil com sonhos de circunstância, estão a viver noutro planeta. Os países do Eixo, os que comandam a Europa e determinam as políticas económicas não lhes vão facilitar a vida.Espero estar enganada porque dois milhões é um número demasiado penoso para se esquecer.


*Crónica Antena Livre, 89.7, Abrantes, de 2 de Fevereiro. OUVIR

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