O ataque ao coração dos homens e das mulheres livres.
Na
semana passada o coração da Europa foi atingido. Atingido da forma mais vil e
intolerante que podíamos imaginar. Em nome de um Deus, em nome de motivações
incompreensíveis, de causas absurdas, matou-se a sangue frio, de forma
calculista e inqualificável. Os factos já todos os conhecemos. Quero por isso
falar daquilo que me assola a alma, motivado pela revolta. A vida humana é o
bem maior de que dispomos. Que tem e deve ser preservado a todo o custo e acima
de todas as causas. O terrorismo, nas suas mais variadas formas, seja de
Estado, religioso ou baseado noutras convicções, tem alastrado por todo o Mundo,
com intensidade depois dos ataques do 11 de Setembro nos Estados Unidos. Nos
últimos anos temos vivido permanentemente com a ameaça por parte do chamado
Estado Islâmico, que tenta abanar as democracias, as liberdades e a
fraternidade entre povos. Os discursos falam em combate a este terror sem
tréguas, e, a verdade, é que o Ocidente tem estado adormecido quanto às reais
ameaças que chegam dos grupos terroristas. Parece não haver limites para
indivíduos e grupos que, em nome de causas religiosas, ferem de morte os
princípios basilares de qualquer Estado de Direito. Dito isto, a tragédia que
teve lugar em Paris fez soar as campainhas de alarme do Mundo Ocidental. Não
foi apenas a liberdade de imprensa que foi atacada. Foi a Liberdade e a
Tolerância em toda a sua dimensão. Só podemos alcançar consensos se todos nós
soubermos o significado da palavra diferença e nos respeitarmos uns aos outros
na base da tolerância. Por tudo isto estimados ouvintes, enquanto cidadã,
jornalista e defensora da Democracia, vos digo que, na Vida, como no
Terrorismo, é preciso resistir ao Medo, enfrentar a ameaça com coragem e
resistir a todas as formas de extremismo, desde a rua onde vivemos até aos
campos de treino do Estado islâmico. A Europa não estava preparada para um
ataque como este. Os dirigentes europeus perceberam que estavam encostados à
preguiça. Há muito que sabíamos que isto podia acontecer. Mas como seres
humanos, achamos sempre que as barbáries acontecem lá longe, e não aqui, em
cima das nossas cabeças. Tal como muitos, também eu sei, que o Islão é muito
maior que este outro lado que o usa para matar pessoas em nome do Profeta. Para
impor uma ideologia cega e que acredita que pode dominar o mundo. Que o
Ocidente saiba travar este extremismo e o terrorismo. E que saibamos todos ser
tolerantes e separar o trigo do joio, seja em Lisboa ou em qualquer outra parte
do Mundo. Porque o choque de civilizações é isso mesmo: tolerância e respeito
por diferentes cores, religiões, credos e culturas.
*Crónica
de 12 de Janeiro na Antena Livre, 89.7, Abrantes.
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