Política. Onde as pessoas deviam estar em primeiro.
O país
assistiu na semana passada a dois dos três debates que irão opor António José
Seguro e António Costa na corrida às primárias do PS. Muita tinta se escreveu,
muitos comentadores falaram e muito se disse sobre os dois confrontos. Sendo
este um momento muito particular da vida do PS, a verdade é que, aos meus olhos,
pouco ou nada consegui vislumbrar de um verdadeiro candidato a
primeiro-ministro. Poucas ideias, pouca vontade de ser franco com o eleitorado
e, mais importante que tudo isto, um debate constantemente virado para o
passado, muito por culpa de Seguro que, de forma ignóbil, usou armas e
argumentos da chamada Baixa política. A fraqueza dos líderes mede-se por aquilo
que demonstram, por aquilo que fazem na história que escrevem. O actual líder
do PS teve três anos para mostrar ao que vem, o que tenciona fazer de diferente
caso venha a ocupar a cadeira de São Bento. Não o conseguiu e a verdade é que
não são três meses que se muda um cenário que em três anos, como disse, não foi
capaz de alterar. Já António Costa, que reúne à sua volta consensos de unidade
interna, achou que isso bastava para chegar, ver e vencer. Percebeu que não
basta. São precisos compromissos, com as pessoas, com o país, mesmo sem saber
que condições existirão daqui a um ano para governar. A fibra de um político
mede-se por aquilo que consegue passar aos cidadãos, seja ao nível dos
discursos, da atitude ou até dos compromissos com peso e medida. Seja como for
há algo de positivo que sai desta agonia de meses que irá deixar marcas no
partido. Abriu-se à sociedade, convidou os cidadãos a participar na vida activa
do partido e, na verdade, as pessoas disseram «sim» a este repto. Também aqui
provaram que quando chamadas a tomar posição de forma directa, mostram que
estão interessadas, revelam surpresas e até mesmo uma disponibilidade de
cidadania que julgávamos perdida. Os partidos em Portugal (e até na Europa)
sabem que pouca margem de manobra têm para fazer política à moda antiga. E têm
medo de se abrirem, de se desnudarem e abraçarem o eleitorado como ele merece. Talvez
comecem a perceber que, se há saída possível para a redenção, esta hipótese
começa precisamente de fora para dentro e não ao contrário. Que a lição sirva
para todo o sistema, incluindo os restantes partidos portugueses, todos eles, à
sua maneira, mergulhados em crises profundas ideológicas.
*Crónica
15 Setembro, 89.7, Antena Livre, Abrantes. ÁUDIO AQUI.
Comentários