ALA. Embala-me e seduz-me até à última palavra de um livro.


António Lobo Antunes deu, na passada quinta-feira, uma entrevista à Visão, numa espécie de conversa em que as perguntas mais não são que citações das suas crónicas naquela revista. Mais um momento só dele, só meu, só nosso. Escolhi algumas das citações que me tocaram mais. É difícil, porque cada palavra que sai de ti, ALA, enche-me o coração de mais amor. Mas só quem conhece a tua obra pode interpretar e compreender mais longe o que dizes e o que escreves. Ler-te não pode ser literal. Ler-te é entrar em ti, ALA, e no ser humano que és. Sem ti, não seria AC. Sem ti, também a minha escrita não seria o que é. Um chá e umas bolachas. Repetimos na última semana do ano. E não, não és extrovertido, porque quem te percorre as entranhas consegue ver-te sempre a sorrir e a dançar. Em caracteres sedutores que embalam e me adormecem até amanhecer.

«Eu estou cheio de perguntas e cada vez tenho menos certezas. Penso que os livros vão ficar, mas o que passei nos últimos seis anos (com o cancro e a recidiva), fizeram-me questionar tudo e até estar-me nas tintas para que os livros fiquem ou não. O que é que me interessa isso, se eu morro».

«O que fizeste da tua irmã gémea que abandonaste ao nascer?».
«Carrego a grande dor de nunca ter tido uma irmã…é talvez o grande desgosto da minha vida». 
«Há alturas em que penso que tivemos a sorte (ele e os irmãos) de não termos sido amados». 
«O sítio onde escrevo é-me totalmente indiferente, não tenho rituais nem maço ninguém…desde que não falem comigo. Escrevo devagar mas também não faço mais nada. Gosto de desenhar as letras, o acto da escrita tem uma componente infantil que me agrada. Escrever é fazer redacções…». 
«Um livro acaba quando a gente sente que o livro está farto de nós, já não aguenta mais correcções. Como quando nos querem beijar e já não nos apetece mais…». 
«Eu compreendo a infidelidade no amor, mas não compreendo na amizade (…) No amor, o ciúme é normal, e até posso aceitar o sentimento de posse. Para mim, a amizade é completamente assexuada, não sou capaz de sexualizar uma amizade, nunca fui, mas no amor às vezes também não. Porque o amor é tanto que a gente fica sufocada de paixão e nem penso em sexo, ficamos a olhar apenas, só o privilégio de poder estar a olhar… E existe aquela sensação de que se tocar vou estragar, porque posso fazer ali uma nódoa, um amolgão, qualquer coisa… Ultimamente acho que é uma honra tão grande estar vivo…e um acaso». 
«É um milagre tão grande fazer um filho, depois ficam uns adultos chatos, mas ali são só nossos, ou talvez não sejam nossos, mas não são de mais ninguém». 
«Um livro de que eu gosto tem de ter charme. Ler um livro bom é uma alegria tão grande. Por isso eu não entendo a inveja e a rivalidade entre escritores, porque isto não é nenhum desporto de competição. Não faz sentido a inveja em arte. Não entendo, nunca tive ciúmes nem inveja. Para mim é uma alegria encontrar-me com um livro bom». 
«Eu não sou grande espingarda na alegria de facto. Nunca fui extrovertido nem alegre e sinto esta sede de amor e de ternura inextinguível». 
«É engraçado, eu beijo os meus amigos, que não são muitos, mas beijamo-nos sempre».
«Se eu pudesse sentar-me ao colo da Maria Antonieta e pedir-lhe para ela gostar de mim…». 
«Eu sinto que tenho livros para fazer, às vezes penso que sou como uma vaca, ou égua, ou cabra, que ainda pode engravidar mais três ou quatro vezes. Gostava de continuar a escrever. Às vezes penso que talvez tenhamos nascido com um certo número de livros cá dentro. Se eu não os escrever a minha vida não tem sentido». 

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