Combate aos incêndios. Uma oportunidade perdida.

O Verão de 2013 foi particularmente negro para os bombeiros portugueses. Não apenas pelo número de profissionais que perderam a vida no combate aos incêndios, mas também pelas lacunas e erros que persistem na gestão da floresta portuguesa há décadas. Mais uma vez presenteiam-nos com as declarações de lamento do costume. E as velhas frases de que é preciso atacar o problema dos incêndios pelo lado da prevenção roçam, há muito, a falta de respeito. Falo do desrespeito pela floresta, pela economia que ela podia gerar mas acima de tudo pelos que perdem a vida de forma gratuita. E, uma vez mais, vemos o Governo a anunciar, depois da catástrofe, pacotes de medidas que são muito bonitas, são sempre muito bonitas, até ao próximo Verão, altura em que o país descerá de novo ao inferno. Em breve, assegura o Governo, sairá uma alteração legislativa que coloca nas mãos do Estado a gestão da propriedade privada abandonada em todo o território. Diz o secretário de Estado das Florestas e Desenvolvimento Rural, Francisco Gomes da Silva, que se trata de um pacote de emergência a que o executivo chama de "murro na mesa". Murro na mesa era o que o país já devia, há muito, ter dado. Mas numa terra de brandos costumes, a lição só produz efeito no momento temporal da tragédia. A medida não é má já que coloca nas mãos do Estado a responsabilidade dos terrenos sem dono conhecido.
É exactamente neste ponto que radica, uma vez mais, o problema. Tenho dúvidas de que o Estado consiga efectuar este trabalho com a competência que se exige. Sabemos que é moroso e custa dinheiro, coisa que não temos. Quanto à prevenção, no caso limpeza destes terrenos, temo que seja outra intenção que fique no papel. Há quantas décadas ouvimos nós as promessas vãs dos responsáveis políticos deste país sobre esta matéria? Mais uma vez estamos a menosprezar a riqueza milenar que é a nossa floresta, um factor de elevada rentabilidade económica e de sustentabilidade. Mas isto é algo que o poder político desde sempre ignorou. Isto é algo que custa dinheiro e dá trabalho. Por isso é sempre mais fácil accionar os meios de emergência, permitir às autarquias que se endividem para suportar os custos sociais e económicos dos incêndios do que assumir responsabilidades nacionais. Para o ano a ladainha será a mesma. Os problemas também. E será mais um ano para acrescentar ao rol das oportunidades perdidas da competitividade da floresta portuguesa.
 
*Crónica de 16 de Setembro, Rádio Antena Livre, 89.7, Abrantes.



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