O regresso de Sócrates [o último animal político].


A semana que passou colocou no mapa do país uma nuvem negra de instabilidade política perigosa, com o PS a encabeçar a liderança do caos democrático.
Uma moção de censura encabeçada por António José Seguro, o regresso nada inocente de José Sócrates à vida pública nacional, o aparecimento de figuras como Jorge Coelho, Ferro Rodrigues ou Maria de Lurdes Rodrigues colocaram a febre da instabilidade no topo da actualidade nacional.
Uma verdadeira mostra de como também os mass média alteraram por completo a importância do valor notícia.
Tudo isto mergulha ainda mais sociedade portuguesa numa verdadeira ânsia em relação ao presente e ao futuro de curto prazo.
O Governo falhou em toda a linha na última avaliação da Troika, como na semana passada aqui falei na Antena Livre. E isso custa caro, sobretudo aos nossos bolsos, demonstrando que, afinal, os sacrifícios não estão a valer a pena nem a limpar a podridão que outros fizeram.
No ar surgem também notícias de que o Tribunal Constitucional irá chumbar algumas medidas do Orçamento do Estado para este ano. E se as duas medidas às quais os juízes do palácio Ratton se preparam para mostrar cartão vermelho se concretizarem, aí sim, mergulharemos no verdadeiro caos.
A suspensão do pagamento do subsídio de férias aos pensionistas e a contribuição extraordinária nas pensões acima de 1.350 euros são os pontos mais graves do Orçamento e violam claramente a Constituição da República. Passos Coelho sabe disso, e sabe também que a margem começa a ser cada vez mais curta, sobretudo depois de o seu ministro das Finanças ter dito que afinal, bem, afinal, a culpa do falhanço da austeridade é da Troika, que desenhou mal o programa de ajustamento financeiro.
Esta quarta-feira José Sócrates, que terá um novo programa semanal na RTP, dará as boas-vindas aos portugueses, numa grande entrevista concedida à estação pública de televisão.
É claro que este regresso tem como objectivo ajudar Seguro na cruzada perdida contra o Governo de direita. Mas também é claro que é um erro nada digno de um animal político como José Sócrates, o último por sinal desta geração de políticos que temos.
É cedo demais para o retorno socrático. É uma infantilidade penosa, até, voltar quando ainda nem passaram dois anos depois da sua retirada. Uma retirada dura, consequência da irresponsabilidade e megalomania de um homem que é um dos melhores políticos dos últimos anos que Portugal já conheceu.
Mas é apenas isso mesmo: um excelente dominador da oratória. Na gestão, na condução dos destinos do país, na redução do défice, Sócrates inscreveu o seu nome na longa lista de malfeitores que destruíram este país.
O futuro conturbado que nos espera é dramático. E o mais triste é ver que esta nova geração de políticos não aprende e continua a querer apenas o palco da mediatização individual.
Entretanto, como é cada vez mais claro, Presidente com firmeza na acção, nem vê-lo. É mais fácil andar por Trás-os-Montes e sentar-se no Vaticano a assistir ao primeiro Angelus do novo Papa. Que pelo menos Francisco lhe dê uma luz: uma luz que ilumine as almas do sistema que por cá continuam a ensombrar, irresponsavelmente, o desgraçado povo. 

*Crónica na Rádio Antena Livre, 89.7, Abrantes, de 25 de Março. 

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