Homenagem à Paulina: a bombeira-coragem abrantina.


Abrantes: a cidade que nunca esquecerá esta 'mulher-coragem'
Esta crónica tem selo de tristeza. Daquela tristeza que abala qualquer um que ama a sua terra natal.
E o sentimento transfigura-se em outras emoções quando a morte de uma conterrânea surge no dia em que regressamos a casa para matar as saudades dos nossos.
Este fim-de-semana uma bombeira dos Bombeiros Municipais de Abrantes perdeu a vida num acidente, quando se deslocava para um incêndio numa freguesia do concelho. Uma tarde de sábado quente, que batia nos 30 graus.
Uma tarde onde a paz inundava a cidade, como já é hábito a um qualquer sábado de cada ano.
E este trágico acontecimento serve precisamente para ilustrar a última semana, pródiga em incêndios.
A Madeira e o Algarve foram as regiões mais fustigados pelas chamas. Voltaram os gritos de aflição, os desesperos, as lágrimas e a impotência de nada conseguirmos fazer perante o avanço incontrolável das chamas.
O país volta em 2012 a arder de norte a sul. E, como sempre, surgem, de todos os quadrantes, críticas aos bombeiros e à gestão de quem no terreno coordena as operações de salvamento e urgência.
Os argumentos, das associações e das populações, são sempre os mesmos. Alguns sempre a bater na famigerada falta de meios e outros, igualmente marcados pelo drama de quem nos momentos de aflição acha que a culpa é dos soldados da paz.
O problema dos incêndios há décadas que está diagnosticado. E reside unicamente na ausência de uma política florestal estruturada. A demissão do Estado na prevenção do problema é a causa mais gritante. Mas, em boa parte, os privados também deviam assumir as suas responsabilidades, sobretudo, por não cuidarem das suas propriedades, e podendo evitar, em muitos casos, danos maiores.
Não há muito a dizer sobre isto, porque tudo já foi dito, escrito e aconselhado. O que entristece a alma é que todos os anos, quando chega o Verão, as imagens televisivas são as mesmas, entrando-nos na alma e ferindo a sensibilidade mais humana.
Há muito que devíamos ter aprendido mas, como bons portugueses que somos, teimamos em descurar algo onde podíamos ser líderes em competitividade económica. Perdemos floresta anualmente, deixamos morrer espécies únicas e permitimos que as gentes do Interior mais susceptíveis às ondas mortíferas das chamas percam anos e anos de trabalho e investimento próprio.
Quanto aos bombeiros, estes homens e mulheres, fazem o que podem, com os meios que têm e sem pedir nada em troca. Sejam voluntários ou municipais, a estes homens e mulheres, deveremos sempre não só as nossas vidas como a sua preserverança.
Por tudo isto, porque desta vez foi a minha cidade que perdeu uma mulher de coragem, que acordou no sábado passado pensando que cumpriria a sua missão e regressaria a casa, sã e salva, esta crónica é-lhe dedicada. A ela e a todos os bombeiros que, dia e noite, saem em missão para dar a vida por todos nós.
À família, aos amigos e aos abrantinos, deixo aqui o meu pesar e a minha lágrima de esperança.

P.S. - Este texto constitui, na íntegra,  o conteúdo da crónica semanal que às segundas-feiras  tenho na Rádio Antena Livre, em Abrantes. É dedicada também a todos os bombeiros e populações que nas últimas semanas têm lutado no país contra o inferno das chamas. 

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